quinta-feira, abril 15, 2010

Mantenham as tradições - Coluna ChampCar Brasil

Mantenham as tradições

O ano está passando mais rápido que esperado. É incrível ver que estamos rumando para segunda quinzena de abril e a chegada de maio é o grande desejo dos fãs. A Indy (para mim, continua como IRL, pois a Indy original foi "morta" no final de 1995 e o seu assassino está solto por aí) está chegando a Indianápolis em algumas semanas. Muitos pilotos estão se movimentando para tentar chegar as 500 milhas, algo que não me agrada muito, já que a maioria é somente corredores, não verdadeiros concorrentes ao título.

O Graham Rahal está entre os que buscam uma oportunidade sendo que a questão financeira é o grande obstáculo ao seu objetivo. É possível até uma zebra e ele vencer a tradicional corrida de Indiana, pois esta é uma prova diferenciada, apesar disso ele não terá equipamento suficiente para lutar pelo cobiçado troféu. O que deve estar passando em sua mente é disputar todo o campeonato.

Outro piloto que passa pela mesma situação é Paul Tracy. Mesmo não concordando com algumas opiniões e atitudes dele, contudo, não há como negar que se trata de um vitorioso, um campeão. Parece ser uma espécie de discriminação por ele ser um cara autêntico. Em algumas ocasiões, falar o que pensa pode ser um tanto complexo, entretanto admiro pessoas assim, já que também costumo agir da mesma forma, sempre que possível. Às vezes o silêncio é uma das grandes estratégias de um profissional. Não é sempre que se conhece a idoneidade da pessoa que está do outro lado com o bloco e um gravador em punho. Hoje vejo ocorrerem situações que me entristecem em demasia.

No fim dos anos 1980 e começo dos 1990, quando esse colunista era somente um adolescente com 14 anos, o calendário da Indy Car World Series tinha sua primeira etapa sempre no tradicional oval de Phoenix, deixando os carros, logo em seguida, o deserto do Arizona rumo a Long Beach, na linda e ensolarada Califórnia. Nesse período do ano, entre o final de março e/ou início de abril, todas as atenções da mídia e torcida eram direcionadas para aquela prova praiana, que para muitos – eu entre esses -, tratava-se de um campeonato a parte. Eram tempos em que, com toda a justiça, Emerson Fittipaldi e muito raramente Raul Boesel, tinham seus passos acompanhados da mesma maneira que os nossos representantes na Fórmula 1.

A Indy 500 possui algumas tradições muito bacanas que eles fazem questão de preservar. O fato de o vencedor tomar leite no Círculo da Vitória, ritual que começou nos anos 1930 vem de um acordo entre as cooperativas de leite do estado de Indiana, um dos produtos mais importantes da economia local. O Troféu Borg-Warner, bancado por uma famosa fornecedora automotiva de Michigan, introduzido em 1936, é outro símbolo importante. Já a pomposa premiação, na faixa de alguns milhões de dólares, é bem real.

Existe também o desfile no dia anterior a prova com a presença de todos os pilotos. Temos ainda a foto oficial, com todos os 33 pilotos presentes, na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Muito interessante, é a confecção dos ingressos da prova com o rosto do vencedor do ano anterior, homenagem repetida por seis vezes até aqui. A classificação é um espetáculo quase tão importante quanto à corrida em si, ocorrendo à definição do pole position, também conhecido como Pole Day, sete dias antes da prova. A linha de tijolos, que marca a linha de chegada, é outra reverência aos homens e mulheres que desafiaram uma pista voraz, arriscando suas vidas pela vitória.

Considero aqueles pilotos antigos verdadeiros astros, numa época na qual frescuras como assessorias de imprensa, empresários, massagistas e preparadores físicos eram exclusividade das estrelas de cinema. Eram tempos em que os pilotos muitas vezes metiam a mão na graxa para fazer os reparos e ajustes nos seus carros. O prêmio não chegava aos valores de agora, mas com certeza, para algumas dessas legendas, terem seus rostos imortalizados no Borg-Warner valia mais que todo o dinheiro do mundo.

Infelizmente, para este ano, parte dessa tradição quase centenária vai ser destruída. Em 2010, teremos apenas 18 dias de atividades, com mês de maio não mais exclusivo para as 500 milhas de Indianápolis, pois teremos o GP do Kansas logo na primeira semana do mês. Sei que os tempos são outros, porém não concordo em retalhar a programação da prova mais rentável da categoria. Ainda mais se levarmos em conta que somente poucas corridas da temporada regular dão lucro. Tanto é verdade que, quando o campeonato chamado Indy 500 se encerrar após 200 voltas do dia 30 de maio, veremos diversos pilotos e equipes com sérias dificuldades orçamentárias para concluir o restante do ano. Tem sido assim desde a cisão em 1995.

Um abraço e fiquem com Deus.

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