sexta-feira, março 12, 2010

Quando a grana esta curta - Champcar Brasil

Quando a grana está curta

Espero que os amigos leitores estejam gozando de boa saúde e bem motivados para esse ano que mal começou, pois sabemos que aqui no Brasil, a engrenagem só volta a girar após os festejos de carnaval. Muita coisa aconteceu no mercado da Indy nesse final de outono nos Estados Unidos e verão quente e chuvoso, em terras brasileiras. Estamos começando outra temporada, e neste ano, a abertura será no improvisado circuito do Anhembi Parque. Por motivos políticos e comerciais, foi necessário construir um circuito de rua.

Particularmente, adoro o pitlane desse tipo de circuito, por toda atmosfera envolvida e a proximidade que o público tem da ação na pista e o cenário que uma grande metrópole como São Paulo, com sua Selva de Pedra, nos apresenta. Ainda temos o grande desafio imposto aos pilotos que correrão no domingo sem praticamente conhecer o traçado. Teremos um grande evento, mas longe do impacto que representou o GP do Rio de Janeiro de 1999, considerado uma das melhores provas da história da antiga Cart. Essa façanha foi fruto de muito planejamento, que começou a ser realizado quando ainda faltavam mais de 100 dias para o começo do evento.

Na etapa paulistana, além dos problemas comuns a toda corrida realizada dentro de uma cidade, o local escolhido para sediar a prova recebeu o desfile das escolas de samba da cidade, encurtado ainda mais o já apertado cronograma de obras. Mesmo assim, acredito no talento de determinação dos envolvidos nessa empreitada, tanto quanto dos nossos pilotos que vão nos representar em São Paulo. Todos sabem que particularmente não irei torcer por piloto algum, mas por certa equipe sediada em Mooresville, na Carolina do Norte: o poderoso Team Penske.

Novamente eles vêm bastante motivados para levar o campeonato que não conquistam desde 2006 com Sam Hornish Jr. Porém eles não terão uma tarefa das mais fáceis. A dupla da Ganassi, que levou os últimos três campeonatos, e Tony Kanaan serão os competidores a serem batidos. Apesar de tantos ingredientes interessantes para termos belas disputas o grande assunto na Fórmula Indy não se encontrar no ambiente esportivo. O destaque é a grave crise financeira que se abate sobre a categoria.

O problema, que se acentuou no final de 2008, com a grande recessão da economia dos Estados Unidos, parece não ter solução de curto prazo. A conseqüência disto está bem visível na diminuição de patrocínios nos carros e na quantidade de placas publicitárias. No auge da saudosa Cart, os bólidos de uma equipe do nível da Newman Haas não tinham espaço suficiente na carenagem para estampar seus anunciantes, tamanho era a procura das empresas. Times como Ganassi, Green, Forsythe também eram mantidas por grandes marcas.

Agora a realidade é diferente. Diversas equipes tradicionais se viram obrigadas a fecharem as portas, enquanto as remanescentes lutam para sobreviver. Com isso temos cada vez mais a presença de pilotos com qualidade duvidosa, mas muito dinheiro, pilotando em equipes antes consideradas estruturadas. A exceção que confirma a regra é o tremendo esforço despedido por Penske, Ganassi e Andretti (com Tony Kanaan e Ryan Hunter-Reay) para manter suas estrelas, que sempre são assediadas pela Nascar.

Não foi por acaso que a Penske, a mais tradicional e vitoriosa equipe, depois de quase 20 anos, trocou as tradicionais cores vermelho e branco de seus carros, dando espaço a uma pintura onde predomina o preto e o branco. Isso aconteceu graças à saída do seu principal patrocinador, a Philip Morris, que desde 1990 estampava a marca do cigarro Marlboro na equipe.

Enquanto Hélio Castro Neves e Ryan Briscoe representam a Penske Racing, divisão encarregada das corridas de Indy, Will Power terá a seu dispor os mecânicos e engenheiros oriundos da Penske Motorsports, antigo programa do time na American Le Mans Series e Grand-Am. Os dois primeiros pilotos não possuem um grande patrocinador estampando os espaços deixados pela Philip Morris. No caso de Power, ele é apoiado pela Verizon Wireless, uma companhia de telecomunicações.

Para uma equipe tradicional como a de Roger Penske não ter o apoio de grandes marcas é um forte sinal da grandiosidade dessa crise. Minha esperança para o fim dessa época de trevas reside na mudança de comando no corpo dirigente da Indy. Sai à polêmica e excêntrica figura de Tony George para dar lugar a Randy Bernard, executivo de grande nome no mercado de entretenimento. Quanto mais profissionais competentes substituírem os membros da família Hulman nas decisões sobre os rumos da Indy Racing League melhor será. Eles demonstraram que não sabem administrar as questões relativas ao esporte.

Infelizmente tenho uma nota triste para concluir a coluna. A Fórmula Atlantic, categoria de base com 36 anos nas pistas dos Estados Unidos e Canadá, não será realizada em 2010. Uma pena que um grande campeonato, formador de talentos como Gilles Villeneuve, não possa cumprir sua função. Espero que seja somente um até breve. Mas, quando a grana está curta...

Nenhum comentário: