segunda-feira, março 29, 2010

Coluna ChampCar Brasil

A força

Entre trancos e barrancos o GP do Brasil (São Paulo Indy 300) da Fórmula Indy foi muito divertido. Há tempos não tínhamos no Brasil uma cobertura televisiva como a vista nos dias de treinos e corrida na capital paulista. Existem várias coisas que devem ser melhoradas, mas a partir de agora, não existirá o fator tempo jogando contra a organização. A pista, por exemplo, tinha um desenho muito interessante. Infelizmente houve o deslize com relação à aderência da reta do sambódromo e é justamente esse aspecto que eu queria tecer maiores observações. A cidade de São Paulo teve uma grande habilidade para solucionar o problema. Eles foram rápidos quando era necessário ser e isso deixou os norte-americanos, conhecidos por serem excessivamente bitolados, de queixo caído.

A influência econômica e o poder político muitas vezes fizeram com que provas, mesmo não possuindo as condições mínimas técnicas e de calendário para serem executadas, fossem disputadas. Lembro certa vez, em Cleveland, onde o asfalto do Burke Lakefront Airport estava literalmente esfarelando em determinados trechos. Qual foi a decisão da Cart no meio da prova transmitida para 200 países? Remendo com cimento de secagem rápida. O Luciano do Valle e a turma da Bandeirantes não acreditavam quando viram aquilo. Então é bom deixar claro que ondulações existem em qualquer pista de rua no mundo inteiro em quantidades maiores ou menores. Isso ocorre inclusive em determinadas pistas fechadas, mas essa é pauta para outra coluna.

Outro episódio ocorreu em 2000, ano de renascimento da Penske. A prova de Nazareth seria a primeira do certame no "quintal" do Roger Penske. Aquela semana estava fria, entretanto havia um tempo limpo e um discreto sol, dando um chame aquele lugar não tão atrativo assim já que o grande interesse para a Penske e os outros times era a proximidade daquele acanhado oval em relação à Nova Iorque e as sedes de grandes empresas investidoras na Cart. Os treinos e as outras atividades transcorriam normalmente. A pressão por uma vitória por parte da Marlboro sobre Roger era grande, pois a última conquista havia sido no distante ano de 1997. Mas um fator mudaria todo este cenário. Na madrugada do domingo, uma tremenda nevasca fora de época chegou e tornou impraticável qualquer atividade de pista. Enquanto os times e a organização desmontavam e transportava toda a estrutura os pilotos faziam bonecos e guerra de neve para alegria dos fotógrafos. Dificilmente vamos ver algo parecido na Fórmula 1.

Fosse qualquer outra, exceto as 500 milhas de Indianápolis, a corrida de Nazareth teria sido cancelada e o seguro acionado para cobrir as despesas, os ingressos devolvidos e ficaria uma tremenda mancha na reputação daquela comunidade (lembram do Texas?). Mas como se tratava da pista predileta da Penske Motorsports (ainda por cima sede da organização e antiga casa da Penske Racing), que ficava vizinha a cidade, Roger pressionou a Cart e os outros chefes de equipe sobre a importância financeira de se realizar a corrida. Remarcou-se para a semana posterior a etapa do Rio de Janeiro.

Valeu à pena, pois tivemos um dia histórico. Gil de Ferran levou a turma de Reading a sua 100ª vitória em corridas da Indy. Para nós brasileiros a alegria foi ainda maior já que Maurício "Big Mo" Gugelmin chegou em terceiro. Ferran chutou a urucubaca para longe e vencendo, mostrou a todos que aquele ano seria da Marlboro Team Penske e desse talentoso franco-brasileiro.

A força de Roger Penske apareceu outra vez no caso da migração da equipe para IRL. Por conta de sua decisão, as rivais Ganassi e Green (atual Andretti Autosport), parte dos patrocinadores e a televisão que transmitia a Cart seguiram os seus passos. Seu motivo principal foi ser contra a entrada do fundo de investimento ISL na categoria. O tempo mostrou que Roger estava correto em sua linha de pensamento.

Não que o Capitão seja infalível. Muito pelo contrário. Um dos seus mais famosos erros de avaliação ocorreu no Bump Day da Indy 500 de 1995 e ele até hoje se cobra por isso. Apostar em Alex Baron e Tarso Marques foi também duas escolhas grotescas. Para finalizar, a teimosia de manter o desenvolvimento de um projeto lindo, porém fracassado, como eram os modelos PC27 e PC28, mostram que pessoas obstinadas também têm seus dias ruins.

Mesmo nas vacas magras, homens como Roger Penske continuam sendo admiráveis, verdadeiros mitos vivos. É para ele que dedico essa coluna.

Um grande abraço e fiquem com Deus.

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